Este é um momento marcante para a cidade: o Rio guina... para o futuro!
Nenhum carioca ficará incólume, nenhum carioca pode ficar indiferente.
Esta é também uma das minhas formas de participar: sugerir caminhos para o Rio.
.

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Perimetral: rápido como quem rouba...



[E nem vou perguntar onde estão as vigas desaparecidas...]


Não é altamente estranha a pressa com que a prefeitura do Rio se dispõe a implodir a Perimetral?... Afinal, se querem substituí-la por outra via expressa, por que não construir antes a via expressa?... A parte principal desta via, um túnel sob o Centro do Rio, ainda demora a ficar pronto: por que destruir a Perimetral antes disso?...

Em 24/11/2011, falando a O Globo, o prefeito Eduardo Paes disse: “Derrubar a Perimetral é a última coisa que vai acontecer, depois que tivermos o túnel como alternativa.”

No entanto, a partir daí fizeram tudo para demolir a Perimetral, e já!... 
Está sendo aplicada a manjadíssima “política do fato consumado”... Enquanto isto, a consciência geral é muito lerda... A proximidade do desastre está acordando a população, que tem se manifestado, ainda que esparsamente, e é mais um motivo de urgência para o prefeito, que não quer perder sua “janela de oportunidade”...

O túnel da Via Expressa está longe de ser concluído, a prefeitura reconhece que as Vias Binárias são para acesso interno ao Porto "Maravilha" (não atendem a um fluxo rápido e intenso) e faltam três anos para as míticas Olimpíadas (que servem de desculpa para tudo, disse ele): então, por que começar a destruição da Perimetral antes de construir a substituta?... Por que a pressa?...

Por uma razão simples: ninguém garante que dará certo...

As desculpas surgirão (“houve erros de projeto”), a culpa será jogada sobre os cariocas (“o Porto Maravilha não é área de passagem”) e logo outras soluções mágicas (para felicidade das mesmas empresas) serão efetivadas... Talvez seja este o propósito fundamental: destruir para construir. E destruir de novo para construir de novo. E que haja sempre um novo projeto a ser pago pelos cofres públicos...

Será que o Porto "Maravilha" não é, em si, um “erro de projeto”?... Ou melhor, será que o Porto "Maravilha" não é, todo ele, um erro?...
Há gente que pensa que estas mudanças urbanas têm razões técnicas... Não percebem (será mesmo?...) que a técnica está sempre a serviço do poder, o da política ou o dos negócios... A governança local pelo “método patético” é um bom exemplo.

Outros, ao apoiar a derrubada da Perimetral, dão como motivação (ou desculpa?) a evolução do “design urbano” (que é uma versão “maquiada” das "razões técnicas"), como se a cidade fosse um mero objeto (muito valioso...). É um conceito que está na moda e a toda hora vira notícia em O Globo, que promove eventos e seminários, indicação do sentido que tem. Na busca de “consenso”, os divulgadores e propagandistas dos projetos “revitalizadores” se esforçam para ressignificar conceitos, como na recente exaltação à “gentrificação” do Rio de Janeiro...

Cabe aqui citar a prof. Otília Arantes, in A Cidade do Pensamento Único: Desmanchando Consensos : “Associados aos políticos, ao grande capital e aos promotores culturais, os planejadores urbanos, agora planejadores-empreendedores, tornaram-se peças-chave dessa dinâmica. Esse modelo de mão única, que passa invariavelmente pela gentrificação de áreas urbanas "degradadas" para torná-las novamente atraentes ao grande capital através de mega-equipamentos culturais, tem dupla origem, americana (Nova-York) e européia (a Paris do Beaubourg), atingindo seu ápice de popularidade e marketing em Barcelona, e difundindo-se pela Europa nas experiências de Bilbao, Lisboa e Berlim.”



Dentro do “design urbano” entram os famosos “prédios-âncora”, como seriam, no Porto “Maravilha”, os museus do Mar e do Amanhã, acrescidos de esplanadas, cercadas de prédios longilíneos, por onde passam bondinhos estilizados (igualzinho às mais modernas cidades européias...), aquele tipo de urbanização que dá lindos desenhos ilustrativos. Pena que sobre o transeunte, mero detalhe na paisagem, um vultozinho na imagem da ampla praça vazia, baterá um sol (ou chuva) tropical, carioca e brasileiro, de rachar a cuca de qualquer um (não dos designers, que não vivenciarão o projeto concreto)...

Ora, se haverá uma esplanada junto à estação de desembarque da Praça Mauá, dos museus do Mar e do Amanhã e do entorno do morro de São Bento junto à baía, e se este espaço é para o pedestre, para o turista, então por que não aproveitar a Perimetral como uma fonte de ideias (e de sombras) frescas?...

Se fizeram um jardim sobre um elevado, o HighLine, em Nova York (veja o vídeo), por que não fazer, no Rio, um parque por baixo da Perimetral, bem conservado (dinheiro não falta...), iluminado à noite, na sombra de dia?...

A Rodrigues Alves, vindo da Rodoviária, mergulhará no túnel e, a partir deste trecho (Armazém 8), e não teremos mais veículos, apenas, a passeio, o VLT... Com a Perimetral sobre eles, os pedestres estarão protegidos e acolhidos. 
Pois, sem recursos oficiais, sem maiores projetos, isto já aconteceu na Praça XV: a criatividade popular fez surgir a Feira de Antiguidade, aos sábados e, aos poucos, uma espontânea feira de produtos e serviços populares, que atende a quem pega as Barcas. 

O cúmulo da ironia é que a Perimetral, uma via expressa para carros, será substituída por um túnel, em que passará outra via expressa... para os mesmos carros!...

Ora, se o prefeito e o governador do Rio se entendem tão bem, se estão imbuídos do mais alto espírito público, por que eles não propõem (e são ideias que já foram postadas aqui) que passe por este túnel (em vez de três quilômetros de carros embutidos) um ramal do BRT TransBrasil ou, muito melhor, uma linha nova do Metrô (que nem em Curitiba o BRT dá mais conta)?...

Afinal, vem aí (aguentemos!...) a derrubada da Perimetral, atendendo fielmente à cartilha da modernização das cidades “internacionais”.
Em texto sobre a aplicação desta “cartilha” (Pátria, Empresa e Mercadoria - Notas sobre a estratégia discursiva do planejamento estratégico urbano”), o prof. Carlos Vainer (IPPUR-UFRJ) afirma que, no Rio de Janeiro, “um consórcio empresarial e associações patronais, em parceria com a Prefeitura, conduziram o processo de maneira absolutamente autoritária e fechada à participação de segmentos de escassa relevância estratégica”. 
Sabemos bem disso, mas há mais... Vivemos uma versão cruel do velho provérbio “os cães ladram e a caravana passa”: nós, os cariocas, somos os cães, explorados por um insensível laboratório de “design urbano”...
Em suma, tudo já foi falado: o presente está dominado.
Mas, pergunto: que gosto terá este futuro mal passado?...

domingo, 13 de outubro de 2013

Picotando a Perimetral (e imobilizando o Rio)



Uma equipe de ladrões altamente técnicos picotou (para roubar) as vigas já retiradas da Perimetral, que querem derrubar... 
É sintomático que o prefeito tenha guardado, como um troféu, um pedaço do aço da Perimetral em sua própria casa (ou melhor, a casa em que mora enquanto prefeito, paga pelo povo carioca). Deve sentir-se engrandecido ao reconhecer-se na função de destruidor de patrimônios da cidade, escolhendo uma amostra de aço dessa obra (de destruição) como autoassumido prêmio simbólico, que deve estar ganhando também os concretos... 


Já que na “organização” urbana do Rio de Janeiro predomina a fragmentação das vias (e das vidas), façamos (enquanto mais este crime não é perpetrado) algumas observações sobre os argumentos apresentados e as motivações inconfessadas...


A demolição da Perimetral e a construção das via Expressa e Binário, segundo Fernando MacDowell, especialista contratado, dará não mais que 27% de aumento na capacidade do sistema viário (mas o dado é contestado pelo Ministério Público, e há previsão de aumento do tráfego).

 
Obra da Via Binário, Santo Cristo.

A Via Binário terá pontos de retenção, desaceleradores da velocidade dos carros, com mudanças de direção em ângulo de 90º (vide mapa), enquanto a Via Expressa colocará o tradicional engarrafamento da Perimetral em um túnel de 3km, uma loucura!... 
 [Espera-se que a paisagem perdida seja pintada nas paredes...]
A extensão do túnel até o início do Aterro do Flamengo foi uma decisão pessoal do prefeito e a Prefeitura (o carioca!...) vai pagar por isto. No entanto, "Paes acredita que a despesa possa ser amortizada com a venda do concreto e do aço que sobrarem do desmonte"... Dá pra acreditar?...



Trump Towers, previstas para a Av. Francisco Bicalho.
Retirar o elevado da Perimetral por razões estéticas, para agradar os mandarins do futuro “território dominado” do Porto “Maravilha”, é uma deturpação das tarefas da prefeitura. Basicamente, pretende-se liberar “o visual” dos projetos arquitetônicos do capital internacional (as “Torres”) e dos negócios do seu “departamento de publicidade”, a imprensa laudatória local (não por acaso, os museus do Mar e do Amanhã, são destaques nas apresentações oficiais). 

Todo este “investimento em destruição” será pago pela prefeitura do Rio (R$1,5 bilhão de custo para a derrubada da Perimetral, mais do que foi gasto no Maracanã superfaturado!). É uma espécie de “Lei dos Ganhos Privados”: os gastos (ou custos) são sempre do poder (e, portanto, do próprio) público... 

Há mais de 40 anos a igreja de N.S.das Dores
tem pela frente o elevado da Av. Paulo de Frontin.

E por que apenas esta demolição específica, entre tantas?... 
Trevo das Forças Armadas: trocar por túneis?..

Viaduto da Praia de Botafogo
No Rio de Janeiro, há dezenas de exemplos de elevados, viadutos, passarelas, pontes e outros objetos urbanos que, para seguir o mesmo critério, deveriam ser demolidos. 
E, apesar de ser um xodó do urbanismo atual, espaços amplos, esplanadas vazias, como seriam a Praça XV e o contorno do morro de São Bento, transformam-se, sob o sol tropical, em desertos...
E a questão da mobilidade, este sofrimento cotidiano?... Qual é o plano de transporte de massa para o Porto “Maravilha”?...  Até agora, os ônibus de sempre e o VLT, praticamente um veículo de passeio, integrados aos demais modais. Em termos de transporte de massa, isto não é integração, é fragmentação... 


Já foi proposto aqui o aproveitamento da Perimetral para o BRT TranBrasil, em que o BRT passaria pela borda da cidade e o usuário completaria a viagem no VLT. 


Pontos de retenção da Via Binário + proposta de caminho para BRT TransBrasil.
Ora, ao estilo do método patético que governa o Rio, por que não inverter a proposta e fazer com que (enquanto fica a Perimetral para os carros) o BRT TransBrasil, em vez de seguir pela Av. Pres. Vargas, passe pelas Vias Binárias?... 


Afinal, não é questão de manter a Perimetral a todo custo. 
É de não imobilizar o Rio de Janeiro a um custo altíssimo...
 
Atualizado em 16/10/2013.
 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

O laço metropolitano, nó górdio às avessas...



Na metrópole do Rio de Janeiro, um nó górdio às avessas. Um nó que não foi atado. Não propriamente um nó, um laço...
Conta a lenda que era impossível desatar o nó górdio. Camponês feito rei da Frígia (na atual Turquia), Górdio amarrou sua carroça a uma coluna. Quem a liberasse, um oráculo previu, dominaria a região. Alexandre, o Grande, em 334 a.C., uns 500 anos depois, de passagem para criar um império em Ásia e África deu um jeito: com a espada, cortou o nó...     

O Rio de Janeiro é, em tudo, o inverso... O nó górdio da imobilidade metropolitana do Rio de Janeiro é o (ainda) inexistente túnel submarino do metrô,  já planejado (neste link, um passeio virtual), mas abandonado pelo atual governo do estado. Esta ligação, entre a Linha 2 (que vem de Pavuna) e a Linha 3 (que vai a Itaboraí), deve atravessar a baía da Guanabara, ligando o Rio de Janeiro ao Leste Metropolitano, por Niterói e São Gonçalo. 

A ponte Rio-Niterói se aproxima dos seus limites operacionais
Tomar a decisão de construir esta continuidade sobre trilhos não significa cortar um nó (a não ser o do descaso pela população), mas criar um laço que unificará a metrópole, desamarrando um bloqueio central, a baía da Guanabara.

Atualizado no tempo e na compreensão do espaço, seria a reaplicação do conceito que levou à construção da ponte Rio-Niterói, não mais privilegiando o individualismo dos automóveis, mas, pelo transporte de massa, a coletividade.  


As escolhas do governo Cabral para o Metrô (abandono do final da Linha 2 e junção com a Linha 1 na Central, e a extensão da Linha 1 em direção à Barra) são grandes entraves à mobilidade, seguem a cruel lógica da fragmentação das vias (e das vidas) dos cariocas. 
Versão da Linha 3
Decisões muito mais úteis aos interesses de empresas construtoras ou concessionárias (que costumam ser as mesmas...) do que à população. Convidado a apresentar projetos de mobilidade, tudo que pediu ao governo federal foi a complementação das obras da enviesada Linha 4 (que leva a superlotação do Metrô até a Barra) e a construção da versão superficial (em monotrilho) da Linha 3, trecho de Niterói a Itaboraí, sem a travessia submarina para o Rio.



Versão do Terminal Multimodal, Niterói: monotrilho, ônibus e barcas.

À direita, prédios de até 40 andares no lugar do atual cais das barcas.
Esta obra vem, de várias maneiras, ao encontro dos interesses das mesmas empresas que propuseram a “revitalização” do Centro de Niterói. No que tenta apoio para o projeto, a prefeitura apresenta a construção de um “terminal multimodal” (juntando barcas, ônibus e monotrilho) como grande avanço para a mobilidade da região metropolitana. Na prática, demarca um ponto de bloqueio da mobilidade urbana, torna-se um monumento à fragmentação...

A integração intermodal, esta falsamente brilhante solução, encobre percalços e malefícios que, passada a euforia política das inaugurações, atingirão os passageiros:
Centenas de milhares de passageiros, todo dia, cruzam Niterói

1) contribuirá para sustentar o cartel dos ônibus – o serviço muda de aparência, com a criação de BRTs (cuja implantação provoca incisivos cortes na superfície das cidades, incluindo remoção de moradores), mas, dada a sua capacidade apenas média de transporte, não resolve a questão, como se observa hoje na Zona Oeste do Rio;

A congestionada travessia da baía da Guanabara
2) continua mantendo as barcas como meio preferencial de transposição da baía da Guanabara –o modal é pouco extensível, a capacidade é limitada e a previsão de crescimento do trânsito de navios, causado pelos serviços do pré-sal no porto do Rio, tornará a travessia cada vez mais perigosa e lenta;

3) proporciona a construção de uma quase descartável estrutura de transporte – o monotrilho, pela baixa capacidade de absorção de passageiros, também durará pouco como solução útil para mobilidade metropolitana.
O monotrilho se junta aos BRT e VLT programados para Niterói. São obras-tampão... Melhoram a mobilidade, mas servem mais para atender diversos segmentos empresariais e manter contínuo o mercado das construtoras. São sistemas que, em 10 anos, deverão ser substituídos por outros, de maior capacidade de transporte e liberação da superfície urbana, certamente o próprio metrô... Então, se há apoio financeiro federal, por que não fazer de vez?
O Metrô custa o dobro, mas transporta mais que o dobro...
Há em curso uma evidente estratégia de fragmentação parcial das obras públicas. Fazer várias, que se sobrepõem ou substituem as anteriores, é muito mais "interessante" do que fazer logo um projeto de longo prazo de aproveitamento. Bom exemplo, as redes de metrô implantadas e em expansão em dezenas de cidades, mundo a fora... 

O metrô é caro, exige planejamento de longo prazo (e não de apenas para um ou dois mandatos), mas sai muito mais caro gastar em paliativos...


Afinal, há um verdadeiro nó górdio no Rio de Janeiro, a ser efetivamente desatado por uma administração eficiente: a política de concessões (dos transportes, entre outros).

Por baixo dela está (não a travessia submarina do metrô entre Rio e Niterói...) a transferência do poder do Estado para empresas privadas, por acordos nem sempre legais, muito menos morais, entre seus executivos e políticos do momento.

Empresas que se tornaram os “planejadores” urbanos efetivos no Brasil, entregando, em “janelas de oportunidades”, projetos prontos aos políticos de plantão. E concessões que chegam ao extremo do estabelecimento de um enclave no chamado Porto Maravilha, no Rio, exemplo que a prefeitura de Niterói copia, aceitando entregar administração do Centro de Niterói a empresas privadas que construirão grandes prédios em sua orla, entre outros ganhos... 


As cidades são complexas, as necessidades são imensas, e tudo isto ajuda a explicar nossos atrasos administrativos e sociais. Mas, a má fé parece pesar muito mais...


Atualizado em 06/09/2013, 18h.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O (método) patético governa o Rio


Como já foi dito aqui, o prefeito Eduardo Paes, nas decisões sobre mobilidade urbana na cidade do Rio de Janeiro, as que lhe cabem, é pautado pelo chamado “método patético”, caracterizado por uma impressionante capacidade de fazer inesperadas modificações em decisões tomadas, aparentemente, com a maior certeza...

Percebia-se que não era um cacoete original, que o prefeito era um mero imitador, um aprendiz de feiticeiro, mas não se sabia o quanto estava o famigerado método patético arraigado na governança local... Eis então que, em grandiosa demonstração pública, ao voltar atrás da sua impositiva decisão de destruir os equipamentos esportivos do entorno do Maracanã, o parque aquático Júlio Delamare e o estádio de atletismo Célio de Barros (e, de lambuja, o ex-Museu do Índio, depois de tanto drama, e agora a Escola Friendenreich...), o governador Sérgio Cabral assume-se como o grande mentor do método patético no Rio de Janeiro!

Maracanã, um patético fantasma no Rio de Janeiro... (reprodução da TV)


O governador (que não aceita ser chamado de “ditador”, apesar de lembrar o general Geisel na demolição do Palácio Monroe) impressionou, pela esperteza, toda a torcida carioca: fez colocar no contrato de concessão do Maracanã uma cláusula em que se permitia praticar esta tão vultosa e valiosa alteração. E, pior (ou melhor, para o povo carioca...): realmente mudou a até então intransigente decisão de derrubar os prédios!

Não se trata de afogar pato manco ou de chutar cachorro morto, não se sabe quanto tempo o governador permanecerá no cargo... O que se deve discutir, porque surpreende (e fica por conta dos especialistas), é como se faz um contrato de concessão que para ser alterado (mesmo depois de entrar em vigor!), basta apenas a exclusiva vontade do governante, como se ele fosse um ditadorzinho local, como se não existissem outros poderes no estado, o Legislativo e o Judiciário.


Sendo assim, a exemplo do caso do prefeito, cabem sugestões, sempre no sentido de “voltar atrás”, para outras patéticas decisões do governador, enquanto está no poder (restritas à questão da mobilidade, embora devesse voltar atrás de muitas outras decisões)...

Pensando no futuro, por que não trazer de novo à pauta a conclusão do metrô Linha 2 e a construção da Linha 3, em túnel, sob a baía da Guanabara?... E, ainda mais, por que não uma Linha Nova para, vindo da Glória, circundar a cidade e atravessar o Porto “Maravilha”?... Muito pelo contrário, ao apresentar ao governo federal, recentemente, seus mínimos projetos já em andamento, não só “esqueceu” o túnel sob a baía da Guanabara, como chegou ao ponto de “rebaixar” a Linha 3 (Niterói-Itaboraí): em vez de metrô, um monotrilho...
 
Metrô Botafogo: troca de plataforma para seguir viagem...

Ah, que entre também na pauta a construção da Linha 4 do Metrô!... O governador, hoje um náufrago político, resolveu um dia, ancorado em suas certezas, que estenderia até a Barra, chamando de "Linha 4", a continuação do “linhão” que inventou (ao emendar a Linha 2 à Linha 1, na Central), apesar dos protestos de especialistas e de grande parte da população carioca. Quem sabe o futuro não dará às duas enormes estações paralelas do Metrô em Ipanema, um primor de desperdício, o título de “Complexo Patético Sérgio Cabral”?... 

O serviço da concessionária das barcas Rio-Niterói...
Infelizmente, neste caso não há mais volta, já passou do ponto, não é mais um contrato recém assinado... Deixará, no entanto, mais uma questão para especialistas: é o caso de responsabilizá-lo, um dia, pelo descuido, pelo engano, pela imposição desta opção, tão cara quanto ruim?... Afinal, o “voltar atrás” do governador não será uma espécie de confissão de crime?... E, aliás, o “deixar de voltar atrás” não será um crime ainda maior?...
É hora de pensar na Metrópole e, em termos de mobilidade urbana, é exatamente isto que o próprio governador (ou um novo) terá que fazer. É fato que falta ao (ainda) governador, uma suprema ironia para quem dirige um estado, visão de estadista: em vez de dar atenção ao conjunto, dá às partes, muito especialmente à parte de cada concessionária, quando não à própria parte...

...continua dando dor de cabeça ao usuário.

Sua política de governo para os transportes (e várias outras áreas) é a da “fragmentação lucrativa” (inventemos o termo), a divisão de espaços e serviços públicos por “liberação ao monopólios”, gesto que, imediatamente, as empresas interessadas (e também inspiradoras) entendem como “oportunidades de negócios” e, tudo isto apresentado, tentando ficar bem na fita, como um “sistema de concessões”...
Não chega a ser original, mas o entreguismo, aqui no estado do Rio de Janeiro, certamente tem sido levado ao “estado da arte”, pura mágica ou quase...

Não só esta forma “imperial” de governo precisa ser (e tem sido) questionada, pela participação democrática da população. Também este sistema de concessões, com seus favorecimentos e aproveitadores, tem mais é que entrar na berlinda... 

Não resta dúvida que são, ambos, a base concreta do intragável “método patético” que tem sido aplicado no Rio de Janeiro, com tanta desenvoltura, pelos nossos atuais governantes, o da cidade e o do estado.

Leia mais sobre o tema na postagem anterior,

O transporte do Rio pelo método patético

 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

O transporte do Rio pelo método patético



Não dá para comentar todos os absurdos propostos ou decididos pelos governantes da cidade e do estado do Rio de Janeiro, mas alguns deles são inescapáveis...


            Que raios de projetos são estes, para os transportes do Rio, em que é possível ao prefeito, sem mais nem menos, por conta de uma reclamação pública de arquitetos, decidir pela troca dos trajetos do BRT e  do VLT, da 1º. de Março para a Rio Branco e vice-versa? Que raios de projetos são esses que aceitam uma decisão extemporânea, repentina, de um prefeito cada vez mais confuso e complicado?...

             É patético ver o prefeito dizer que a troca de trajeto entre BRT e VLT “em termos de contrato e na área de obras não faria diferença”. Isto quer dizer que o importante é que a obra seja feita, para que agrade a tantos interessados nela, só pode ser. O que não importa, então, é que a organização da cidade seja realmente a melhor possível. Até porque são obras bancadas pelo governo federal, por farta distribuição de verbas do PAC ou coisa que o valha.

Cai a máscara da argumentação de que os projetos de transportes para o Rio são frutos de decisões técnicas. Tanto há, de um lado, a imposição de propostas das empresas construtoras, que são assumidas como projetos de governo por prefeitos e governadores vendilhões, como também acontece simplesmente de, a partir de uma decisão repentina, um “ataque de autoridade” de um desses governantes, fazerem um projeto técnico para atender à sua vontade. O fato é que há bons desenhistas a serviço de uns e de outros... Basta o prefeito falar que agora vai ser assim ou a empresa tal chegar e dizer que propõe tal coisa e maravilhosos desenhos de como ficará a cidade no futuro aparecem nas mídias, nos sites oficiais, nas propagandas.

            De qual das duas maneiras foi decidida a destruição do elevado da Perimetral, a custos estratosféricos, em troca de túneis e pistas que terão praticamente o mesmo efeito?... Esse prejuízo bilionário se deve a quê?... Às exigências de empresas que querem construir prédios sem obstáculos à sua vista?... Ou a um capricho do prefeito, que quer mostrar que transformou a cidade numa coisa “limpa”?... Aliás, a tentação de botar bondinhos ao estilo das capitais europeias é, tipicamente, uma subserviência colonialista absurda para os tempos de hoje, se não fosse principalmente fruto de uma grande pressão empresarial...


            A pergunta é, de novo: que quisto urbano é este que estão criando na área do Porto “Maravilha”?...

            É só para executivos, para o alto empresariado?... Descerão em heliportos?.. Além da questionável venda de espaço “construível” (as Cepacs), para além do gabarito, que provocará um privilegiado (para os donos) “entupimento” do espaço urbano (afinal, se é tão bom assim, por que não fazem o mesmo, por exemplo, no Leblon?...) e da orientação “separatista” dos projetos arquitetônicos (grandes prédios de negócios mais “próximos” do exterior do que do restante da cidade), há a questão indecifrável dos transportes.


Quem chega na Central, como acessa, de VLT, a Praça Mauá?...
(Fonte: www.veiculoeletrico.blog.br)
            Por que não há transporte público de qualidade e porte previsto para passar por esta região?... O bondinho do VLT é uma coisa praticamente inútil nestas circunstâncias, para atendimento de massa, é um bondinho de passeio dentro de uma região que vai ter “dezenas de prédios de mais de 50 andares”, como diz a propaganda. Qual é a lógica disso?


            Mas, assim como o prefeito tem seus “rompantes urbanísticos”, todos nós podemos opinar: vamos a uma proposta prática!

            Por que o BRT Transbrasil (no mais recente dos muitos formatos que já lhe deram) vem pela Av. Brasil e, para chegar ao Centro, “quebra” na Av. Francisco Bicalho (embolando com o trânsito da ponte Rio-Niterói), entra pela Av. Pres. Vargas (embolando com o trânsito da Tijuca e Zona Norte) e invade a rua 1º. de Março ou, agora, a Av. Rio Branco?... Por que o BRT Transbrasil não entra direto pela Zona Portuária?... Por que ele não atende ao movimento, à quantidade de pessoas que trabalharão nesta região?... Até agora, aparentemente, só os carros particulares e os bondinhos podem entrar?... 


            O ideal, certamente, será o metrô atravessando o Porto, como já proposto, mas, pelo menos, que, aproveitem bem, a favor da população, o BRT Transbrasil. E já há uma via preparada (bastam pequenas modificações) para receber este “ônibus expresso”: é simplesmente o elevado da Perimetral!... Bastará fazer algumas estações para que os passageiros desçam ao nível do solo e, inclusive, possam fazer conexão com o VLT, acessando outros trechos da área central do Rio. Só este aproveitamento do elevado da Perimetral, para uso como rota de passagem do BRT Transbrasil, já justificaria mil vezes a sua conservação.        
  
Proposta para o BRT Transbrasil na área do Centro: via elevado da Perimetral, com retorno na Glória

Compreendendo (e aceitando) o BRT como um passo intermediário e (em alguns casos) necessário, antes da implantação do metrô como meio de transporte eficiente no Rio de Janeiro e em outras cidades (até Curitiba está trocando um pelo outro), por que não, então, estender o BRT Transbrasil, através da área do Porto, por sobre o elevado que já existe (passando pela Praça Mauá, pela Praça XV e pelo aeroporto Santos Dumont), até um retorno na área da Glória, onde se conectaria com o metrô.

É o mínimo de lógica em termos de transporte integrado. Mas, as coisas como estão atualmente se enquadram na lógica (também patética) da fragmentação dos espaços urbanos, cristalizada pelas concessões, em que cada área tem seu dono, cada dono tem seu ganho (garantido pelo Estado) e cada modal de transporte tem a sua exclusividade de demanda. E aí quem sofre é o usuário, que, muito além das vias, tem a própria vida fragmentada...


            Créditos:

Altamente louvável a participação crítica do IAB, 
como também de outras entidades profissionais, 
dentro deste quadro de “facilitação das soluções”.

            Há que se dar ainda o necessário e justo crédito, 
em relação ao título desta postagem, a Mendes Fradique, 
Na verdade o atual método de planejamento urbano no Rio de Janeiro, 
além de patético, é também altamente confuso...

terça-feira, 19 de março de 2013

Revendo o Elevado



Cansa... Mas, é preciso repetir antes (ou até?) que a insanidade predomine...
 

Afinal, o Elevado é útil ou não?..
Este sistema de túneis que estão construindo na área do Porto deveria abrigar o Metrô, uma linha nova do Metrô, em mais uma ligação entre as áreas Norte e Sul, que também atenda ao Centro. E não, como uma pretensa solução mágica, novas pistas de carros para substituir, de forma capenga, as que sumirão na destruição da Perimetral. Por esta opção, o túnel de contorno do morro de São Bento é dispensável, e imaginem a economia que seria...
 
E o que se verá, no Porto, sem o Elevado: armazéns ou navios?...
A área do Porto, que está sendo entulhada de projetos imobiliários, é cercada pelo mar, por morros e por canais. Pois estão centralizando praticamente toda a sua mobilidade no transporte individual, com limitadas alternativas de transporte público. Em pouco tempo será um engarrafamento só!  
Para que a região se torne pujante, mas não deixe de ser acessível, o transporte público terá que ser mais encorpado e mais coletivo do que simplesmente a ligação de ônibus (que virão de longe pelos mesmos trajetos de agora) a uma confusa rede de bondinhos marcha-lenta, que circularão pelo Centro como numa área de lazer..  
Paisagem na Praia de Botafogo

Quer dizer, então, que, após tantas caríssimas intervenções urbanas, o viajante, ao chegar à Rodoviária (para não ficar refém de ônibus e táxis) terá que tomar um bondinho, cheio ou não, e seguir, por longos minutos, carregando sua bagagem, até uma estação do Metrô?... Ah, fala sério!  

E, reconheçamos (se ainda insistem na questão estética), o que tira a visão da paisagem na área do Porto são os próprios armazéns do porto. Ou não?... 
Ok, se continuam com suas necessárias funções (ainda mais diante da expansão dos investimentos no pré-sal e do aumento de turistas na cidade), então que fiquem... E por que, afinal, não são demolidos tantos outros viadutos que enfeiam a cidade, como os dois da Praia de Botafogo, por exemplo?


O povo ao sol da esplanada da Praça XV
É fácil ver (num mero exercício de imaginação) que a retirada dos armazéns abriria para o carioca, de novo, a visão norte da baía da Guanabara. Mas, aí, para apreciar a baía, teríamos também que nos livrar dos usuários do porto, em especial a barreira de transatlânticos de vários andares, no atual e em futuros piers, em Y ou em E...


Pois, até nesse caso o Elevado seria útil, criando sombra na larga faixa que se formaria. É, por exemplo, o caso da Praça XV (e até mesmo da Praça Mauá), onde o Elevado é um alívio contra o efeito violento do sol no amplo calçadão, uma área de sombra que alivia a travessia de uma esplanada vazia.


O povo ocupa a esplanada da Praça XV
Trata-se de uma construção aberta à criatividade, a ser aproveitada a favor dos cariocas, se houver governo que organize... 

Não sei quem tomou a iniciativa, mas bastou que o trecho à frente do Paço Imperial fosse colorido, sem qualquer projeto estético, para que se tornasse, rapidamente, uma área de convivência popular, logo abrigando (onde, aos sábados, acontece a Feira de Antiguidades) uma espontânea feirinha. Bem, imagino que será reprimida, que baixará sobre ela mais um pretensioso “choque de ordem”... Talvez seja justamente isto o que os nossos “governantes” mais temem.
Esta presença do povo no espaço público da cidade, que é bom negócio para muitos, não é, afinal, para poucos...
.