Na metrópole do Rio de Janeiro, um nó górdio às avessas. Um
nó que não foi atado. Não propriamente um nó, um laço...
Conta a lenda que era impossível desatar o nó górdio. Camponês feito rei da Frígia (na atual Turquia), Górdio amarrou sua carroça a uma coluna. Quem a liberasse, um oráculo previu, dominaria a região. Alexandre, o Grande, em 334 a.C., uns 500 anos depois, de passagem para criar um império em Ásia e África deu um jeito: com a espada, cortou o nó...
Conta a lenda que era impossível desatar o nó górdio. Camponês feito rei da Frígia (na atual Turquia), Górdio amarrou sua carroça a uma coluna. Quem a liberasse, um oráculo previu, dominaria a região. Alexandre, o Grande, em 334 a.C., uns 500 anos depois, de passagem para criar um império em Ásia e África deu um jeito: com a espada, cortou o nó...
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A ponte Rio-Niterói se aproxima dos seus limites operacionais |
Atualizado no tempo e na
compreensão do espaço, seria a reaplicação do conceito que levou à construção da
ponte Rio-Niterói, não mais privilegiando o individualismo dos automóveis, mas,
pelo transporte de massa, a coletividade.
As escolhas do governo Cabral para
o Metrô (abandono do final da Linha 2 e junção com a Linha 1 na Central, e a extensão
da Linha 1 em direção à Barra) são grandes entraves à mobilidade, seguem a cruel
lógica da fragmentação das vias (e das vidas) dos cariocas.
Decisões muito mais
úteis aos interesses de empresas construtoras ou concessionárias (que costumam
ser as mesmas...) do que à população. Convidado a apresentar projetos de mobilidade,
tudo que pediu ao governo federal foi a complementação das obras da enviesada Linha
4 (que leva a superlotação do Metrô até a Barra) e a construção da versão
superficial (em monotrilho) da Linha 3, trecho de Niterói a Itaboraí, sem a
travessia submarina para o Rio.
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Versão da Linha 3 |
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Versão do Terminal Multimodal, Niterói: monotrilho, ônibus e barcas.
À direita, prédios de até 40 andares no
lugar do atual cais das barcas.
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A integração intermodal, esta
falsamente brilhante solução, encobre percalços e malefícios que, passada a
euforia política das inaugurações, atingirão os passageiros:
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Centenas de milhares de passageiros, todo dia, cruzam Niterói |
1) contribuirá para sustentar o
cartel dos ônibus – o serviço muda de aparência, com a criação de BRTs (cuja
implantação provoca incisivos cortes na superfície das cidades, incluindo remoção
de moradores), mas, dada a sua capacidade apenas média de transporte, não resolve
a questão, como se observa hoje na Zona Oeste do Rio;
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A congestionada travessia da baía da Guanabara |
3) proporciona a construção de uma
quase descartável estrutura de transporte – o monotrilho, pela baixa capacidade
de absorção de passageiros, também durará pouco como solução útil para mobilidade
metropolitana.
O monotrilho se junta aos BRT e VLT programados para Niterói. São obras-tampão... Melhoram a mobilidade, mas servem mais para atender diversos segmentos empresariais e manter contínuo o mercado das construtoras. São sistemas que, em 10 anos, deverão ser substituídos por outros, de maior capacidade de transporte e liberação da superfície urbana, certamente o próprio metrô... Então, se há apoio financeiro federal, por que não fazer de vez?
Há em curso uma evidente estratégia de fragmentação parcial das obras públicas. Fazer várias, que se sobrepõem ou substituem as anteriores, é muito mais "interessante" do que fazer logo um projeto de longo prazo de aproveitamento. Bom exemplo, as redes de metrô implantadas e em expansão em dezenas de cidades, mundo a fora...
O monotrilho se junta aos BRT e VLT programados para Niterói. São obras-tampão... Melhoram a mobilidade, mas servem mais para atender diversos segmentos empresariais e manter contínuo o mercado das construtoras. São sistemas que, em 10 anos, deverão ser substituídos por outros, de maior capacidade de transporte e liberação da superfície urbana, certamente o próprio metrô... Então, se há apoio financeiro federal, por que não fazer de vez?
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O Metrô custa o dobro, mas transporta mais que o dobro... |
O metrô é caro, exige
planejamento de longo prazo (e não de apenas para um ou dois mandatos), mas sai
muito mais caro gastar em paliativos...
Afinal, há um verdadeiro nó górdio no
Rio de Janeiro, a ser efetivamente desatado por uma administração eficiente: a política
de concessões (dos transportes, entre outros).
Por baixo dela está (não a
travessia submarina do metrô entre Rio e Niterói...) a transferência do poder do
Estado para empresas privadas, por acordos nem sempre legais, muito menos
morais, entre seus executivos e políticos do momento.
Empresas que se tornaram os “planejadores”
urbanos efetivos no Brasil, entregando, em “janelas de oportunidades”, projetos
prontos aos políticos de plantão. E concessões que chegam ao extremo do
estabelecimento de um enclave no chamado Porto Maravilha, no Rio, exemplo que a
prefeitura de Niterói copia, aceitando entregar administração do Centro de Niterói
a empresas privadas que construirão grandes prédios em sua orla, entre outros
ganhos...
As cidades são complexas, as necessidades
são imensas, e tudo isto ajuda a explicar nossos atrasos administrativos e
sociais. Mas, a má fé parece pesar muito mais...
Atualizado em 06/09/2013, 18h.