Este é um momento marcante para a cidade: o Rio guina... para o futuro!
Nenhum carioca ficará incólume, nenhum carioca pode ficar indiferente.
Esta é também uma das minhas formas de participar: sugerir caminhos para o Rio.
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um bom lugar para o caos estacionar!...

Quando comecei a sentir necessidade de dar palpites sobre o transporte no Rio de Janeiro, com foco no Metrô, sabia que este é um campo truncado, sob domínio de interesses pesados e impositivos, com aproveitadores descarados e subservientes. Em suma, tudo isto que se pode acompanhar na nossa História...
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Não faltam combatentes de bom senso ou senso prático, mas não são notados pelos que estão no poder, por causa do olho grande e o olhar fixo nos ganhos... Chega a ser enjoativa a quantidade de artigos nos jornais, na internet, em qualquer lugar, dizendo mais ou menos o mesmo: é inaceitável que o esquema rodoviário & individual de transporte continue a dominar as cidades, os países, o mundo!
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Por exemplo, pegando o que tenho à mão... Em O Globo de sábado, 14/01/12, o arquiteto Sérgio Magalhães, em artigo intitulado A cidade não pode parar (que deve aparecer qualquer hora em seu blog Cidade Inteira), fala sobre a dominação “do modo rodoviário e da indústria automobilística” no Brasil desde a década de 60, agora radicalizada: “no período de 2003 a 2010, enquanto a população urbana brasileira cresceu 13%, a frota de veículos aumentou 66%, cinco vezes mais”.
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Sistema de Informações da Mobilidade Urbana 
da ANTP - Assoc. Nac. de Transportes Públicos
Relatório 2010 – pg. 65
E cita o Relatório 2010 – Sistema de Informações da Mobilidade Urbana da ANTP, dando alguns dados: 1) nas cidades com mais de 60 mil habitantes, “o poder público gasta 14 vezes mais recursos associados ao transporte individual do que ao transporte coletivo”; 2) do consumo de petróleo nos transportes, “73% é com o transporte individual e 27% com o transporte coletivo”; 3) “a emissão de poluentes segue o mesmo padrão: 64% e 36% respectivamente”.
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Na página ao lado, do mesmo jornal, um insuspeito cronista, Cacá Diegues, no artigo "Assim se passaram os anos", declara-se usuário relativamente satisfeito do metrô carioca e profetiza, em estilo cinematográfico: “Imagino que qualquer dia desses os carros não poderão avançar um milímetro, o engarrafamento total será definitivo, os motoristas abandonarão suas máquinas por inúteis e as ruas das grandes cidades ganharão uma nova presença ornamental, uma serpente metálica a ocupar suas ruas permanentemente”.
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Como se o caos, completaria eu, tivesse encontrado nas grandes cidades um bom lugar para estacionar!...
Pois é, é para lá que os carros se dirigem!... E, pior para nós, o Brasil vai pela contramão!...
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Detalhe: de Metrô, não ocupam lugar no trânsito...
Lê-se em “Os riscos da expansão das montadoras”, da Agência T1, especializada em logística e transportes, que “a produção de veículos no Brasil deve crescer 55% entre 2007 e 2015”. Como diz um analista, que o artigo cita, “todo mundo está construindo uma fábrica no Brasil”, que tem sido “um dos mercados mais lucrativos para a indústria automobilística nos últimos anos”... E não são fábricas voltadas para a exportação (“70% da produção da indústria automobilística no Brasil depende do mercado interno”), somos um bom negócio para quem perdeu mercado lá fora!... Não sendo o povão quem compra, que são muito altos os preços de carros no Brasil, haja corrupção, desvios de verbas e negociatas para garantir este mercado...
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Não deve ser por acaso que, neste primeiro caderno de O Globo de sábado, das 18 páginas, os anúncios de página inteira com lançamento de modelos novos de automóveis ocupavam cinco!... Sem contar um anúncio na primeira página, 54 páginas em cadernos só de propaganda de carros novos e 12 páginas de anúncios classificados...
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Jornal Porto Maravilha - Dez/11
É claro que esta pressão comercial, para alegria deles, é aplicada também sobre os políticos... Não é à toa que, voltando às questões do transporte no Rio, um projeto da envergadura do Porto Maravilha está basicamente calcado no transporte rodoviário individual. O jornal Porto Maravilha, editado pela Prefeitura, destaca as pistas do Binário do Porto, a via Expressa da Rodrigues Alves e o túnel que substituirá o elevado (aliás, alguém lembrou, é muito melhor ficar engarrafado em cima de um elevado, vendo a paisagem, do que dentro de um túnel...), enquanto o transporte coletivo merece, em toda a edição de Dez/11, apenas uma frase!...
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"Banco Central: nova sede, na Av. Rodrigues Alves, trará para 
a Região Portuária mais de 2 mil funcionários diariamente".
Fonte: blogportomaravilha.com
E como chegarão lá?... De ônibus?... De carro?...
No Editorial, o prefeito Eduardo Paes fala vagamente de uma “nova concepção de transporte público coletivo na área”, que reconhece como estratégica na distribuição do trânsito da cidade. O que se sabe dos projetos para a área é que, fora as vias para carros, está previsto um VLT circular, um bonde de pequena capacidade...
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Aparentemente, esperam que haverá acesso mais rápido para as mesmas linhas de ônibus atuais, de longas distâncias, com terminais na Praça Mauá e na Central. Para tentar melhorar a situação, não me surpreenderia que resolvam deslocar a chegada do BRT Transbrasil para a área do Porto (já disseram que viria pela Pres. Vargas), dando uma maquiada no serviço de ônibus comum.
Só uma nova linha de Metrô garantirá
transporte coletivo para o Porto Maravilha.

Tudo bem, este é, certamente, mais um texto que não vai ser considerado...
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Embora se saiba que há uma evidente divisão de interesses (o Metrô é do governador, os ônibus são do prefeito), isto não impede que se repita uma proposta necessária, uma das ideias principais deste blog:  
o Porto Maravilha, para que a sua nova destinação urbana faça sentido, terá que ser atravessado pelo Metrô!
[saiba detalhes em O cruzamento é (n)a Glória!]
Se não, vai ser apenas mais um bom lugar para o caos estacionar...

8 comentários:

Dora Locatelli disse...

Que bom que você reapareceu tratando de um problema praticamente insolúvel no Rio de Janeiro. Entendo pouco para opinar. Mas li tudo e vi que você conhece o assunto para propor soluções possíveis.
Abraço da Dora.

Monique Futscher disse...

kkkkkkkkkkkkkkkkkk

REpensar // REcusar // REduzir // REutilizar // REencaminhar //REtornar // REstaurar //REadiquirir //REaproveitar //REciclar

Germana disse...

A imagem é perfeita: "um bom lugar para o caos estacionar". Essa predileção pelo transporte rodoviário que atravessa o tempo, os governos e a história, realmente deve acalentar interesses importantes.
Parabéns pela iniciativa do Blog!

Humberto Borges disse...

Belo material sobre caos nosso de cada dia. Eu continuo andando a
pé... para o passado.

Abraços, Humberto B.

Eduardo Tolipan disse...

muito bom Guina, ainda bem que tem alguém de olho nestas GUINAdas.

Luiz Ramos disse...

Social e fisicamente insustentável o aumento dos veículos no Brasil.

Chico Aguiar disse...

Caro Guina,
Sua iniciativa é muito oportuna! Convida os cariocas a refletir sobre as condições de vida nesta cidade, tão enxovalhada pelos malfeitos dos "gestores" do poder público e dos "empreendedores" da iniciativa privada. Aquela sinistra parceria que transforma a cidade num inferno, mas na hora de votar todos ficam anestesiados...
Grande abraço.

Cláudia Versiani disse...

É..... Acabo de receber um manifesto do Pedro Porfírio falando da ideia do prefeito derrubar a Perimetral, e o caos que isso acarretaria. Eu, de minha parte, achei um horror a obrigação dos ônibus serem pintados de uma só cor, confundindo usuários, especialmente os analfabetos, que se guiavam pelas cores do transporte que usavam. Então eu me pergunto: transporte público, a quem serve? Os caras que tomam essas decisões estapafúrdias usam transporte público?