O Rio de
Janeiro, dita Cidade Maravilhosa, passou a ser Cidade
Partida e agora é o Rio de Janeiro, Cidade Vendida.
É a forma mais simples e direta de descrevê-la: Rio, Cidade Vendida.
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A face humana do Rio: o Centro da cidade visto do Morro dos Prazeres. |
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No Rio, sinal verde para os pedágios e outras concessões. Foto Guina Ramos |
Foi assim
que a cidade do Rio de Janeiro (e sua região metropolitana), muito bem embalada
pela própria natureza, tornou-se produto em oferta global, mercadoria de luxo na
vitrine do mundo, pastiche tropical de uma Barcelona idealizada pelos interesses...
Afinal,
nossos políticos são porta-vozes, agenciadores ou meros gerentes desses negócios?... Na
prática, assumem qualquer papel, dado que o papel que os estimula, embora
verde, é maduro e farto... E são ativos, derrubando e desalojando o que e quem lhes atrapalha, que os
compradores estão cobrando e os vendilhões têm que entregar logo (“Derruba rápido este elevado!”) e de forma segura (“O Brasil precisa de leis contra o terrorismo!”) o produto
combinado.
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Baía da Guanabara e Piscinão de Ramos
Foto Mario Moscatelli - Fev/2014
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Temos, aqui no
Rio, o falsamente ingênuo “método patético” do governo municipal de Paes (que reinventa o caos) e a
ardilosa estratégia de fragmentação metropolitana do governo estadual de Cabral (que está na raiz dos protestos). São dinâmicas
capitaneadas por políticos que, embora com índices de popularidade no fundo do
poço, continuam no alto de seus cargos, insistindo nos projetos de seus
patrocinadores, sem risco de impedimento por parte dos cooptados legislativos e
judiciários locais.
Esta
resiliência dos poderosos da vez parece não ser afetada pela grita generalizada
das manifestações de rua, nem pelas críticas diretas dos comentaristas
abalizados, e há muitos exemplos disso.
A professora Sonia Rabello, cuidadosa com a legislação, trouxe à pauta, em seu blog, o que acontece no Panamá (e pode acontecer aqui), a desmesurada proliferação de arranha-céus. A arquiteta Andréa Albuquerque G. Redondo, atenta observadora dos desmandos urbanos, lista extenso rol das arbitrariedades do prefeito. Outros amigos de consciência, Fábio Tergolino, Cláudia Madureira, Alcebíades Fonseca, e muitos outros, participam desta reflexão coletiva, através de seus comentários. E, no entanto, nada muda...
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Panamá City, prédios no Centro - foto Carlos Morales Hendry |
A professora Sonia Rabello, cuidadosa com a legislação, trouxe à pauta, em seu blog, o que acontece no Panamá (e pode acontecer aqui), a desmesurada proliferação de arranha-céus. A arquiteta Andréa Albuquerque G. Redondo, atenta observadora dos desmandos urbanos, lista extenso rol das arbitrariedades do prefeito. Outros amigos de consciência, Fábio Tergolino, Cláudia Madureira, Alcebíades Fonseca, e muitos outros, participam desta reflexão coletiva, através de seus comentários. E, no entanto, nada muda...
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Reprodução do Facebook |
Louvo (e deixo com eles) a cotidiana crítica, que sustenta
uma possível esperança, e fico imaginando (e me arrepio!) como as coisas
ficarão, no Rio e no mundo, se tudo continuar como está...
Sendo o futuro um horizonte de possibilidades, publiquei algumas suposições no conto “Memórias Póstumas do Rio de Janeiro”
(pedindo a bênção ao premonitório Machado de Assis), do livro “2112 ...é o fim!” (encontre-o aqui), que deixo como estímulo à reflexão de quem não quer fechar os olhos para
o que virá:
“Eis que uma onda internacional se
espalha pelo país: acontece a Copa!... Pena que certas ondas sejam assim
nebulosas... Também teve o tempo, apertando o clima, o verão se espalhando por todo
o ano. E perdas pesadas, em roubos de monta, em ganhos espertos. A chapa cada
vez mais quente. Armações em telas, mais fortes que redes. Eu, tudo dominado,
rendido, perdi...”
(...)
(...)
“A Olimpíada durou nada, não mais que
uns dias. Talvez tenha me faltado saco para seguir todas as bolas. Ou não haja
mesmo espírito esportivo que aguente tal variedade de desperdício de tempo...
Valeu para uns, e também nisso não há novidades. Ganharam mais, do ouro,
empreiteiras, construtoras, imobiliárias... Da prata, seus políticos
particulares, em lançamentos secretos. Do bronze, quem foi à praia e não deu a
ela a menor bola...”
(...)
(...)
“Dei-me conta de que, de pedra a
concreto, mudaram as arcadas da boca banguela da baía da Guanabara (já a
aparência, em nada), esta ranzinzice de Lévi-Strauss, por Caetano, em música,
relembrada. Além dos pontos que louva, Pão de Açúcar, Corcovado, agora eu tinha
implantes, uma protética arquitetura de isolados prédios em terrenos de ponta,
que me foram espetados, os Towers & Trades & Trumps, monumentais dentes
artificiais a me morder a histórica paisagem.”
E, se a
coisa continuar assim, por aí afora e adiante, para o Rio, Cidade Vendida, parece mesmo que (se
não antes...), “2112 ...é o fim!”...