Não deixa de ser estranho que não haja um meio legal de
discutir a qualidade urbanística e operacional do projeto, ficando os
questionamentos da sociedade restritos ao campo ambiental oficial. Nele, tudo
se resolve pelas chamadas “ações mitigadoras”, as quais, pretensas respostas a
problemas e críticas, servem implicitamente para dar ao projeto a condição de
fato consumado.
Ao tratar das questões ambientais de uma forma suficentemente vaga, com referências ao ambiente original da cidade (bacias hidrográficas etc) e o urbano (árvores nas praças, fumaça dos ônibus etc), mas sem citar o ambiente interno ao Metrô (do ar condicionado à demora ou a superlotação), o documento indica que o desejo dos governantes momentâneos passa batido por sobre tais firulas... Desqualificado o último entrave, a obra pode ser deslanchada. Fica valendo, portanto, mais que o escrito ou o publicado, o combinado entre os maiores interessados: as pessoas que estão no governo, os investidores da privilegiada concessionária, os executivos das empreiteiras abonadas com as obras.
À sociedade são distribuídos alguns consolos: menos árvores
abatidas na praça de Ipanema, a Estação Gávea em dois níveis (indicando, ao
menos, a futura formação de uma rede) e o anúncio de planos para a construção da
Linha 4 propriamente dita, uma altíssima ironia...
Para ela, nova certeza... O secretário Minc surpreende: a linha, após a Gávea, seguirá por baixo da rua Jardim Botânico!... Diz ele (antecipando-se a uma futura licença ambiental...) que este “tubulão”, por onde passarão os trens, não afetará o movimento das águas subterrâneas circulantes entre o maciço da Tijuca e a lagoa Rodrigo de Freitas, e pelas milhares de plantas do Jardim Botânico. Como a técnica está mesmo, sempre, a serviço da política e dos negócios, e como talvez levemos o tempo de uma geração para saber as consequências, não é difícil acreditar que surgirão garantias.
E as mesmas dúvidas... Deixou no ar uma grande interrogação quanto ao destino desta Linha 4 rediviva: após o Jardim Botânico e, certamente, o Humaitá, por onde, e para onde, afinal, irá o Metrô?...
Objetivamente, a resposta útil e sensata continua a mesma:
que ela atravesse o Centro em direção à Zona Norte, em vez de criar a frustração de
uma linha precocemente interrompida!... Que não se torne algo igual à estação
ferroviária da Central do Brasil, que, por razões da expansão histórica da
cidade, exige hoje da grande maioria dos usuários uma outra viagem ou longa
caminhada para chegarem a destinos que realmente interessam.
No Rio, temos dois “funis”, a Zona Norte e a Zona Sul, “ligados” pelo Centro, mas boa parte do fluxo de passageiros o transpassa,
não se prende a ele... Os antigos planos do Metrô imaginavam uma Linha 4 vindo da Zona Sul para terminar no Centro, e uma Linha 5 da Zona
Norte para o Centro, ligando o aeroporto do Galeão, passando pela
Rodoviária, ao aeroporto Santos Dumont, algo bem civilizado...
Partindo destas referências, a evolução da idéia é simples: as duas podem formar uma linha só, que atenderia a todos: a Linha Nova!...
Ou Linha N, para se diferenciar deste esquema numérico tão altamente viciado pelas emendas problemáticas e as duvidosas extensões.
Ou Linha N, para se diferenciar deste esquema numérico tão altamente viciado pelas emendas problemáticas e as duvidosas extensões.
A princípio, a Linha N seguiria o traçado já proposto para a Linha 4 original. Sai da Gávea, passa pelo Jardim Botânico e Humaitá e cruza o vale do rio Carioca. As estações poderiam ser no Cosme Velho e na praça Ben Gurion, em Laranjeiras, talvez mais uma na rua Pinheiro Machado.
Aí é que vem o pulo (carioca) do gato!... A novidade, que é
também uma solução (alguns chamarão de “mágica”, mas os técnicos saberão facilmente planejar), começa pela direção que tomará... A Linha N será
direcionada à Estação Glória, aonde cruzará a Linha 1 original, atualmente conjuminada com a Linha 2.
E que não seja para sempre!... Que a Linha 2 volte, um dia, ao seu trajeto ideal, desde a Pavuna (e além), via Estácio, até a Carioca, a que se seguirá a ligação com a Linha 3, do outro lado da baía da Guanabara.
E que não seja para sempre!... Que a Linha 2 volte, um dia, ao seu trajeto ideal, desde a Pavuna (e além), via Estácio, até a Carioca, a que se seguirá a ligação com a Linha 3, do outro lado da baía da Guanabara.

A partir daí, a Linha N inicia o necessário contorno do Centro da cidade. Primeiro, com a estação do aeroporto Santos Dumont, uma necessidade absolutamente óbvia... Depois, por sob as vias existentes, com a Estação Praça XV (em dois níveis, porque também receberá a Linha 2). Neste trecho será feita, naturalmente, a adaptação do Mergulhão, o túnel hoje entupido por resfolegantes e esfumaçados ônibus...
A próxima parada da Linha N do Metrô é a Praça Mauá, aonde chegará por um “caminho natural”, (sob) a rua D. Gerardo. Não se aproximará demais do cais (a estação seria atrás do edifício A Noite, sob a ladeira João Homem), para não afetar as novas vias e se manter em área geologicamente favorável.
Neste ponto estará adentrando ao Porto Maravilha!... Afinal, para
merecer tão fulgurante título, a área do Porto tem mais é que ter acesso ao
Metrô!... Fica difícil imaginar como tanta gente que vai morar e/ou
trabalhar ali (em muitos “prédios de até 50 andares”, como se prevê) conseguirá
garantir sua mobilidade utilizando apenas carros particulares, volumosos ônibus
e limitados bondes. Ou VLTs, o Rio mais uma vez imitando as cidades europeias...
Atravessando a região, com estações nos tradicionais bairros da Gamboa, Saúde e Santo Cristo, o Metrô chegará (e terá uma Estação junto) à Rodoviária e ao recém lançado Porto Olímpico, um projetado conjunto de grandes edifícios comerciais/residenciais/hoteleiros às margens do canal da Av. Francisco Bicalho.
A próxima parada é o Campo de São Cristóvão, onde a Linha N seria bifurcada. Num projeto mais amplo, um ramal partiria rumo à importante conexão da Estação Triagem e daí para diante, na direção Oeste (veja em A Linha X),
Seguindo o roteiro, a Linha N, a caminho do Galeão, passaria
pela Barreira do Vasco (com a estação junto ao estádio de São Januário), onde se transformaria em linha elevada, a exemplo de grande parte da
Linha 2. Suas paradas principais estariam na Fiocruz, na Vila do João, na
parte sul da favela da Maré, na Ilha do Fundão e no seu Hospital, e, finalmente,
no Galeão, com extensão para o interior da Ilha do Governador.
O Rio de Janeiro sem uma eficiente rede de metrô logo se tornará
insuportável, em termos de trânsito, uma São Paulo à beira mar... As evidências
e os fatos estão aí: uma metrópole que privilegia o automóvel e não supera as
limitações do seu sucedâneo, o ônibus, tende a se engarrafar no caos...
Segundo noticia a imprensa, “O governo fluminense vai financiar 80% do ICMS em 50 anos, com
30 de carência, para Nissan e PSA (Peugeot/Citroën). Juntos, os benefícios
chegam a R$ 10 bilhões.”
É aí que o bom senso e outras possíveis qualidades dos nossos governantes têm que ser postos à prova: por quê estimular, com dinheiro público, a produção de automóveis, em vez de investir na construção imediata de novos meios coletivos de transporte?...
Só se for para queimar o petróleo do pré-sal nos engarrafamentos, na contramão da História...
É aí que o bom senso e outras possíveis qualidades dos nossos governantes têm que ser postos à prova: por quê estimular, com dinheiro público, a produção de automóveis, em vez de investir na construção imediata de novos meios coletivos de transporte?...
Só se for para queimar o petróleo do pré-sal nos engarrafamentos, na contramão da História...